Rua da Palmeira

Não sei se estou bebendo mais ou se estou ficando velha mesmo... Ontem o mundo começou a girar, girar...fui beber água de coco.
Santo Remédio!

As vezes também me acho meio louca...das coisas que ando reparando nessa cidade.

Aqui perto tem criança jogando bola no meio da rua, no centro de são paulo.

Outro dia vi uma velhinha bem pequena, usando casaco vermelho, cachecol...bermuda xadrez com meinha soquete e galocha azul. Uma fofa! Como eu reparo nas velhinhas...Saudade.

Outro dia vi um casal deles, aqui no centro tem muitos, meio abandonados...dignamente cuidando de si mesmos quando já não dá mais. O casal caminhava a passos lentos, de braço dado. Ele, terno risca de giz, cabelo com gumex. Ela, saia longa, xale e uma roda de blush vermelho das bochechas.

Andavam tão devagar, no ritmo dos bondes, que é o ritmo dessa gente que carrega a São Paulo antiga na memória. Nem ligavam pros atropelos, pro congestionamento causado na calçada, pras caras feias e empurrões. Ali na Rua das Palmeiras, parecia até que eles ainda podiam enxergar as árvores que nomearam a rua...se é que um dia elas existiram.

Parece que sim. Outro dia consegui ver a única palmeira que ainda vive lá. E ela me contou...

XoX
Na Rua das Palmeiras também morava uma rainha africana. Ela morava na rua, em frente à Caixa econômica...dormia enrolada no edredom verde que o Gil deu pra ela...com um lenço na cabeça cobrindo um coque meio alto...negra bem negra, com olhos grandes e assustados.
No dia que ela reparou que eu reparei nela, ela passou a me ignorar...eu tentava dizer bom dia e ela baixava o olho. Vergonha de existir!
Daí eu mudei da rua das palmeiras...e voltei lá outro dia e ela não está mais. Perguntei ao caixa do supermercado em frente, não sei, perguntei ao dono da banca de flores em frente, não sei, será que mataram ela? Ninguém sabia...pode ser que ela jamais tenha existido...ou que ela deixou de existir quando quem reparou que ela existia sumiu.
Dizem que ela estava meio violenta...um dia pegou um pedaço de pau e bateu em uma mulher... E eu vi ela ser presa e depois devolvida pra rua.
Pode ser que seus súditos tenham vindo buscá-la...ou alguém da saúde pública...e ela hoje more num hospício.

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