O NASCIMENTO DE JENIFER
Antes de haver tempo, nasceu da espuma das ondas ou de uma
concha de madrepérola, uma deusa que seria dita do desejo, da beleza e do amor e
todas as delícias humanas. Afrodite, depois Vênus, foi venerada e nunca
esquecida.
Já no tempo da história, um homem que pintava, dentre vários
outros que desenhavam ou esculpiam, pensou nela como uma moça bonita de cabelos
longos e vermelhos, que envolviam a sua nudez pudica. De um lado, um casal de
ventos soprava sua chegada à costa; de outro, a ninfa primaveril ensaiava
manter o seu recato com uma coberta de flores.
Ontem nasceu Jenifer, expelida pela barriga da mãe, que foi morta
e esmagada pela madeira que um caminhão levava. Recolhida pelo resgate entre as
vísceras desta mulher que viajava de carona numa busca, talvez do desejo, da
beleza e do amor. Naquelas brechas de carne e carga, a menina chorou e
encontrou ar e vida. Resistente e teimosa insistência no meio do desastre,
ganhou o manto prateado dos primeiros socorros e a lágrima escondida dos
bombeiros.
Se eu fosse a avó de Jenifer, contaria a ela que sua mãe era
uma linda concha furta-cor.
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