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Mostrando postagens de junho, 2006

Quando nos descobrimos hermanos

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Na terça-feira, dia de jogo, havia somente oito alunos na quinta série. Três deles bolivianos. Nesta sala eu faço meu trabalho de base Brasil-Bolívia. Eles já sabem dos fantásticos Incas e escutam quase todos os dias sobre a discriminação e racismo. Era a chance dos colegas ensinarem o que sabiam para o resto da sala. Ta bom, gente! Vamos brincar de dicionário português-espanhol. Como se escreve casa em português? Casa. E em espanhol? Casa. Tão vendo, moramos no mesmo lugar. * Na saída da escola, descobri que um deles tem uma Bíblia em aymara que o avô esqueceu quando voltou pra Bolívia. “Ele deve é ter deixado pra vocês de propósito!”, falei. “Traga pra eu ver, por favor. E descobre alguém que possa me ensinar a falar”. O outro aluno diz que a mãe dele fala aymara, mas só de vez em quando. Só “quando vem um homem lá em casa, ler o futuro”. Eu digo, “Jura?”. “É, ele é um feiticeiro. Espalha as folhinhas (de coca? é) e lê o futuro.”

Anhangá, São Jorge e todas as gentes

Quase dava pra dizer que todo mundo do centro estava ali. Uma multidão de gentes. Office-boys, manicures, vendedores, enfermeiras, camelôs, contínuos, escriturários, corretores de seguros, agiotas, compradores de ouro, garis, aposentados, funcionários públicos, crianças, bebês, meninos vendedores do farol, moradores de rua. Sem esquecer das meninas do Cine Cairo, que não abandonaram seus postos de trabalho sob a supervisão do cafetão gay que não nos deixou usar o banheiro. Estava quase todo mundo de verdeamarelo, com aquelas cornetas que nos dá um som de boiada, outras estridentes, outras improvisadas. O imenso telão lá da frente não dava pra todo mundo. Na nossa frente, duas palmeiras e uma teimosa goiabeira que nasceu no vale do Anhangabaú. Uma das palmeiras ficou tentando sair da frente o jogo inteiro, estava até meio torta...mas com uma visão privilegiada da partida. Primeiro tempo. A gente meio de canto, pensando nas próximas umahoraemeia em pé. Nos esgueirando entre um sem número

Às vezes...

Noites de luxúria com meu computador...Uma das minhas diversões preferidas, beber uma cerveja e escrever neste blog. Só faço isso às vezes. Eu esperei meses pra fazer isso. E nem sei porque estou fazendo hoje. Acho que consegui, depois de quase cinco meses de escola, desligar o cérebro. Brinde a isso, então! * Desci no barzinho da esquina (aquele que o dono me estende um LM quando me vê). Cheguei com a garrafinha, que é dele emprestada, e ele me vendeu uma brejinha quase cremosa de gelada. Só pra clientes preferenciais. Também vai ser a única, porque amanhã tem 5ªB. Este bar tem uma peculiaridade, me vende cigarro fiado. De manhã saio pra escola em transe, correndo, às vezes pego um maço e pago na volta. Eu gosto das relações de interior que se criam, saudades da caderneta da mercearia e da conta na locadora. * Tenho saudades, às vezes, de morar no Butantã. Mas acho que eu não conseguiria trabalhar o tanto que eu trabalho hoje, como eu não conseguia naquela época. Cada dia, uma desculp

Em plena campanha "Se é pra ir...

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vai Brasil! (ou volta de uma vez!)

Mudam-se os tempos...mas não muito

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Escrevia na lousa sobre a aventura das navegações. Na 5ªB, claro. Consegui conversar com eles hoje de novo, e contava sobre os monstros que viviam na imaginação dos navegadores que tinham coragem de se enfiar num barco por meses, temendo ciclopes, dragões e sereias... _ Tinha loira burra, sora? Não entendi, continuei falando outra coisa, pedi pra alguém sentar, pedi pras meninas pararem de falar, escrevi mais um pouco na lousa. Escutei o papo dos dois menininhos da frente. _ Então dizem que ela corta a boca com uma faca, pra você não gritar... _ E tem que dar três descargas... Parei, olhei e perguntei. Como se chama a loira? _ Loira burra, sora! A menininha do fundão vem correndo... _ Um dia eu cheguei no banheiro e encontrei uma menina chorando no canto. Ela disse que não entrava no banheiro porque a loira burra tava lá. Gente! Pessoal! Sabia que faz pelo menos 20 anos que esta história existe? Será que é verdade mesmo? _ Claro que é, Sora!, responde o David. Eu já vi.