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Mostrando postagens de setembro, 2006

Uma tia no Playcenter ou sobre adolescentes e outros monstros

De quando todo mundo se encontra no escuro, e no que isto pode dar. Do programão do qual todos os professores fugiram, a novata aqui aceitou. Êêê a professora vai! Afinal, havia 12 anos que não pisava naquela terra mágica das diversões e do consumo. E dessa vez eu iria do outro lado. A primeira descoberta foi a Sala dos Professores: telefone, fax, água, café, televisão, internet, sofás. Não consegui ficar nem dez minutos lá dentro porque havia 73 na minha responsabilidade lá fora. Duas horas depois eles nos encontram, todos encharcados e felizes...tinham conseguido ir em UM brinquedo. Vamo, vamo, vamo, fui. Uma hora de fila para passar um puta medo numa montanha russa violentíssima (é, agora são mais de três). Medo que eu me julgava imune, mas o brinquedo quase arrancou minha cabeça fora. A uma hora de fila também vale um comentário: novas regras. Quem reclamar de quem furar fila, apanha. Eu, um pouco constrangida, abriguei seis alunos que descaradamente pularam o labirinto de gradinha

Mil chinelos para Lucas

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No buteco da Oscar Freire, lotado com os operários que trabalham na reforma das calçadas, o atendente tenta me cobrar 1,90 por um refrigerante. Não, obrigada. Aproveito as mesinhas de plástico da frente do bar para corrigir as redações das 5ºB. O exercício era fazer uma redação sobre uma pessoa que não sabia ler e foi viajar pelo Brasil. De tudo saiu sobre quem não freqüentava a escola porque era chato, porque os pais na achavam importante e sobre quem era enganado, perdia o ônibus ou a rua certa onde deveria descer. Faltando meia hora para a última aula do dia resolvi caminhar lentamente pela Oscar Freire para observar cheiros, vitrines, pessoas e preços. Em frente à livraria da Haddock Lobo conheci o Lucas. Ele é uma criança bem pequena, estava descalça e carregava uma caixa de engraxate feita sob medida. Ele disse: Me dá um real pra eu comprar um chinelo? No Pão de Açúcar. Lucas. Tô na 2ª série. Em Guaianazes. Minha mãe ta vendendo bala no farol. Igual a do sítio? É, se você fosse m

Metade cheia, metade vazia

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Escrevo para me fazer companhia em um compromisso: terminar uma garrafa de cerveja que sobrou de uma reunião em casa: metade cheia, metade vazia. Estou na minha 15ª hora acordada, somente a última não foi gasta trabalhando. Parece ruim, mas não é. A minha metade cheia está lotada. Tenho muito mais compromissos do que aconselha a vã filosofia. Porém, os 250 alunos, os 500 problemas, os cinco projetos não remunerados, os bicos e as boas sete horas de sono me deixam feliz. Para a metade vazia sobram as entrelinhas do tempo.