Uma tia no Playcenter ou sobre adolescentes e outros monstros
De quando todo mundo se encontra no escuro, e no que isto pode dar.
Do programão do qual todos os professores fugiram, a novata aqui aceitou. Êêê a professora vai! Afinal, havia 12 anos que não pisava naquela terra mágica das diversões e do consumo. E dessa vez eu iria do outro lado.
A primeira descoberta foi a Sala dos Professores: telefone, fax, água, café, televisão, internet, sofás. Não consegui ficar nem dez minutos lá dentro porque havia 73 na minha responsabilidade lá fora.
Duas horas depois eles nos encontram, todos encharcados e felizes...tinham conseguido ir em UM brinquedo. Vamo, vamo, vamo, fui. Uma hora de fila para passar um puta medo numa montanha russa violentíssima (é, agora são mais de três). Medo que eu me julgava imune, mas o brinquedo quase arrancou minha cabeça fora.
A uma hora de fila também vale um comentário: novas regras. Quem reclamar de quem furar fila, apanha. Eu, um pouco constrangida, abriguei seis alunos que descaradamente pularam o labirinto de gradinhas prateadas (que são tão cheias de vais e vens que não te dão a dimensão do tempo de espera).
Algumas coisas dos velhos tempos ainda existem, os dumbos voando, o velho carrocel, a velha roda-gigante, o velho cheiro de hambúrguer fritando. Não existe mais o tobogã, o teleférico e, do riozinho fedido que cortava o parque, só resta o cheiro.
E só pra localizar o título deste documento, as 6000 crianças, menos as 73 que me chamavam de sora, me chamavam de tia.
Às seis da tarde, quando nada mais parecia possível, a noite cai e nada se acende. E o parque prepara uma incrível horda de monstros. Agora vejam a tia encarnada: solte seis mil adolescentes, de 10 a 20 anos, de 1,20 m a 2 m de altura. Sozinhos. Agora apague a luz. Agora coloque muitos monstros para assustá-los e correr atrás deles.
As seis e meia eu levei uma cabeçada na boca. As crianças gritam e correm em pânico de braços dados; a cabeça de uma delas está a altura da minha boca. Fui ao ambulatório, em busca de um simples gelinho, e encontro minhas alunas, uma delas com o joelho e a cara pisoteada... por causa desse mesmo pânico. Nada de grave depois, saio com a boca cortada e roxa e com uma aluna mancando pedindo para ir nos brinquedos. Não!
Dez minutos depois, os médicos já rindo da minha situação, volto para buscar outra que foi empurrada e bateu a cabeça. Ela, em pânico, até me ver e ver os monstros do parque começarem a chegar feridos. Naquela uma hora foram quatro. Um com dedo entortado, e três com os olhos feridos por ataques de pulseirinhas fosforecentes.
Eu virei para a aluna para acalmá-la, tentando me acalmar. Ta vendo, tem baixas de todos os lados, monstros, alunos e professores.
Uma hora e meia depois das nove, encontro todo mundo, o motorista, o ônibus, faço chamada, escuto ameaça da mãe cuja filha bateu a cabeça, pego o metrô, compro uma cerveja, tomo e escrevo.
Do programão do qual todos os professores fugiram, a novata aqui aceitou. Êêê a professora vai! Afinal, havia 12 anos que não pisava naquela terra mágica das diversões e do consumo. E dessa vez eu iria do outro lado.
A primeira descoberta foi a Sala dos Professores: telefone, fax, água, café, televisão, internet, sofás. Não consegui ficar nem dez minutos lá dentro porque havia 73 na minha responsabilidade lá fora.
Duas horas depois eles nos encontram, todos encharcados e felizes...tinham conseguido ir em UM brinquedo. Vamo, vamo, vamo, fui. Uma hora de fila para passar um puta medo numa montanha russa violentíssima (é, agora são mais de três). Medo que eu me julgava imune, mas o brinquedo quase arrancou minha cabeça fora.
A uma hora de fila também vale um comentário: novas regras. Quem reclamar de quem furar fila, apanha. Eu, um pouco constrangida, abriguei seis alunos que descaradamente pularam o labirinto de gradinhas prateadas (que são tão cheias de vais e vens que não te dão a dimensão do tempo de espera).
Algumas coisas dos velhos tempos ainda existem, os dumbos voando, o velho carrocel, a velha roda-gigante, o velho cheiro de hambúrguer fritando. Não existe mais o tobogã, o teleférico e, do riozinho fedido que cortava o parque, só resta o cheiro.
E só pra localizar o título deste documento, as 6000 crianças, menos as 73 que me chamavam de sora, me chamavam de tia.
Às seis da tarde, quando nada mais parecia possível, a noite cai e nada se acende. E o parque prepara uma incrível horda de monstros. Agora vejam a tia encarnada: solte seis mil adolescentes, de 10 a 20 anos, de 1,20 m a 2 m de altura. Sozinhos. Agora apague a luz. Agora coloque muitos monstros para assustá-los e correr atrás deles.
As seis e meia eu levei uma cabeçada na boca. As crianças gritam e correm em pânico de braços dados; a cabeça de uma delas está a altura da minha boca. Fui ao ambulatório, em busca de um simples gelinho, e encontro minhas alunas, uma delas com o joelho e a cara pisoteada... por causa desse mesmo pânico. Nada de grave depois, saio com a boca cortada e roxa e com uma aluna mancando pedindo para ir nos brinquedos. Não!
Dez minutos depois, os médicos já rindo da minha situação, volto para buscar outra que foi empurrada e bateu a cabeça. Ela, em pânico, até me ver e ver os monstros do parque começarem a chegar feridos. Naquela uma hora foram quatro. Um com dedo entortado, e três com os olhos feridos por ataques de pulseirinhas fosforecentes.
Eu virei para a aluna para acalmá-la, tentando me acalmar. Ta vendo, tem baixas de todos os lados, monstros, alunos e professores.
Uma hora e meia depois das nove, encontro todo mundo, o motorista, o ônibus, faço chamada, escuto ameaça da mãe cuja filha bateu a cabeça, pego o metrô, compro uma cerveja, tomo e escrevo.
Comentários
cheguei aqui procurando um texto sobre supersticoes, super antigo.. legal que o blog ainda eh atualizado! gostei! t+
Bjo!
Adorei!
Beijo