Quando nos descobrimos hermanos
Na terça-feira, dia de jogo, havia somente oito alunos na quinta série. Três deles bolivianos. Nesta sala eu faço meu trabalho de base Brasil-Bolívia. Eles já sabem dos fantásticos Incas e escutam quase todos os dias sobre a discriminação e racismo. Era a chance dos colegas ensinarem o que sabiam para o resto da sala. Ta bom, gente! Vamos brincar de dicionário português-espanhol. Como se escreve casa em português? Casa. E em espanhol? Casa. Tão vendo, moramos no mesmo lugar. * Na saída da escola, descobri que um deles tem uma Bíblia em aymara que o avô esqueceu quando voltou pra Bolívia. “Ele deve é ter deixado pra vocês de propósito!”, falei. “Traga pra eu ver, por favor. E descobre alguém que possa me ensinar a falar”. O outro aluno diz que a mãe dele fala aymara, mas só de vez em quando. Só “quando vem um homem lá em casa, ler o futuro”. Eu digo, “Jura?”. “É, ele é um feiticeiro. Espalha as folhinhas (de coca? é) e lê o futuro.”