Na estação da luz, hoje a tarde, uma senhorinha tocava um dos pianos. Com os cabelos bem vermelhos e um brinco grande em forma de M foi que eu adivinhei sua história enquanto assistia a apresentação. Madalena, chutei ser seu nome, tocava um piano autodidata, com os dedinhos encolhidos ela martelava as teclas enquanto sorria pra multidão que se aglomerava. Martelava a velha canção sobre uma mulher galopeira, e subia as oitavas dedilhando em busca da nota certa. De seu sorriso sensual, escondido atrás da velhinhice, imaginei-a rodeada de homens em uma casa de mulheres trabalhadoras. Dava pra ver que Madalena era acostumada com o palco, talvez até tivesse nascido para ele, e que noite após noite ela tocara para embalar tantos galopes, em outras paragens.