Sabedoria Elisa Lucinda
Tava brincando de oráculo com o livro de poesia da Elisa Lucinda.
Oráculo é: pensa numa coisa e abre o livro.
Veio essa cantiga.
Meu homem
escuta essa minha lira:
De noite suas costas são
a minha escuridão mais clara
rara, te vejo nítido roçando
Os lábios do meu beijo
.Meu desejo circula pelo corpo como um som
e eu não concentro amor só na parte
Parte, volta...
Minha abertura pequena se expande
profunda para onde não sei
Meu homem
escuta essa carícia:
Delícia sua mão
me pega pelo dorso
como se fosse a primeira mão
primeiro menino, primeiro selo, primeiro varão.
Meu erro de me estabanar me dá medo.
É cedo e o trem ainda não apitou.
Escuto no entanto a fábrica da cidade de São Paulo
soando lá fora
Deve ser manhã.
A claridade que assusta seus olhinhos azuis
vai morrer de medo de mim quando eu chegar.
Vou tirar meu amor da mala
exala tudo cheirando a amêndoas doces
colônia e creme de barba
Tudo se acalmará em fogo
quando a nossa água definitiva
invadir o ar com seu cheiro de querer forte
Sorte
Vou chegando
Distância some.
essa minha cantiga
um dia me caso contigo
no fundo sou
uma menina antiga
Comentários
Pra quê roliúdi, se temos Elisa Lucinda, as madrugadas e os apitos dos trens e das fábricas?
Gostei muito dessa menina antiga.
Bjs