Rumo a caderininhos 2006

Os projetos em longo prazo que disse outro dia podiam ser, por exemplo, conseguir fazer da vida um texto.
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Enquanto isso, fico na vida por itens, sem apresentação, desenvolvimento, conclusão, alguma narração e quase nenhuma carta.
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Pouca poesia, a não ser aquela que já vem pronta nos livros ou na rua, que nem aquele homem que vi há pouco, carregando desajeitado e solene um ramo de rosas brancas e vermelhas embrulhadas em plástico, atravessando a rua murmurando sozinho, provavelmente as palavras que diria ao entregar o presente.
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Também vejo na rua por aqui crianças andando de bicicleta junto com os carros, jogando futebol aos domingos, ou um velho andando bem pra lá do meio fio, com os passos calmos do interior (dele mesmo). Eu vejo pouco medo de carros em alguns.
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Comecei hoje meu caderno do ano que vem. O ano começou hoje, sem festa. Com cerveja sozinha com este amigo computador de tantas horas.
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Foi hoje que larguei meu emprego em busca de uma vida nova. Como diz o filme que chorei assistindo, o último do caderno passado ou o primeiro deste ano, estou abrindo os trilhos, mesmo que ainda não haja trem.
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Este emprego, com carteira assinada, me dava muita informação e pouco conhecimento, quase nenhuma amizade, lesão nos tendões, nenhuma militância, pouco crédito para meu cérebro. Larguei em busca da escola pública.
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Um pouco antes da carta de demissão, documento inédito nos meus escritos, saiu a nomeação no diário oficial. Não estou desempregada, portanto. Ano que vêm no mínimo 210 crianças de 11 a 14 anos me esperam. Espero que eles me esperem, porque eu espero eles!
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Este ano tem mesmo a lista de promessas de ano novo. É infindável, mas serve mais pra eu não esquecer quem eu sou, o que quero mesmo, o que gosto tanto, o que eu não agüento mais.
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E ainda se a vida continuar em itens, ao invés de números, estrelas!

Comentários

Bia disse…
lindo seu post!!!
eles te esperam assim como você os espera!
sei que pareço uma tola romântica falando de educação, mas é muito bom mesmo!
kellen disse…
Não esquecer esses itens preciosos é o que realmente importa. E que 2006 seja absolutamente lindo para você! Grande beijo
Anônimo disse…
Cuquis!!!
muito axé pra ti, nêga! Sua melancolia me acolhe. Sei que você tem muitas histórias pra contar pra essa criançada e é isso que é educação, narrar.

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